terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Por delicadeza

Bailarina fui
Mas nunca dansei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dansei no avesso
Do tempo bailado

Dansarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado

Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei

Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:

«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Nota: aqui, mais uma vez, a poeta grafa a palavra "dançar" e seus derivados com a letra"s": "dansei"

Com este poema extremamente autobiográfico encerro minha seleção de O Nome das Coisas, de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Espero que tenham gostado!


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