Assim a luz ao madrugar liberta
E uma se multiplica
Para inventar o espanto o alvoroço a festa
Do reino revelado
Oásis e palmar – distância justa
Atenta invenção do que foi dado
O pintor pinta no tempo respirado
Reconhece o mundo como um rosto amado
Pinta as longas extensões as longas lisas linhas
O caminhar comprido da terra e suas crinas
Pinta o quadro dentro do qual o quadro
Se tece malha a malha como em tear a teia
O outro quadro do quadro convocador convocado
Pinta o bicho egípcio os dedos da palmeira
Assim a luz ao madrugar liberta
A ternura funda nossa aliança com as coisas
Eis o mito solar a fina mão do trigo o bicho grego
O amor que move o sol e os outros astros
- Como o Dante Alighieri disse –
Move e situa o quarto o dia o quadro
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
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