quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Orla azul da noite com mambas

Ouvir a lascívia
com tanto sangue na oração de lábios
e com tanto amor na chacina lilás das veias desde
as salivas secas aos magnetos manuais com fantásticos
colchões onde flutuar as espáduas apalpadas das virgens,
as cintas estalando-se no ardor magnífico
dos xipendanas bantos em comum
nos centros tocando a raiva
da estrela dos dois fazendo
este filho!

E as mais belas
missangas no resgate das mulheres
casadas rainhas eleitas dos mabandidos tombados
à esquina com tordos anestesiados a perfumes
de cajueiros com alguns de nós emboscados na orla
azul da noite com as mambas
aos gritos à rasca.

E o metal dos guizos
das correntes nas chagas dos tornozelos
no Setembro antigo das alcateias em viaturas
tombam os lobos abatidos a pragas de versos
e debelamos a lascívia das suas dentaduras no barro
ardente das panelas detonadas
à força dos vácuos
sem arroz!


Este poema me fez perder o fôlego. Inicialmente pelo seu ritmo compassado, regado pelas aliterações, mais tarde pelo seu conteúdo, que foi calando mais profundo à medida que relia e relia os versos.

Um comentário:

  1. Oi, descobri o seu blogue meio por acaso. Numa rápida leitura, gostei do que vi. Por enquanto, vou reproduzir um poema de José Craveirinha (mais embaixo) que gostei muto, com os devidos créditos, naturalmente. Tenho a maior curiosidade em conhecer Moçambique (sou brasileiro; resido no Rio); aliás, tenho a maior admiração por um cineasta moçambicano (que faz filmes entre nós): Ruy Guerra. Enfim, valeu a pena vir até aqui. Um abraço.

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