segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Palácio

Templo de Cnossos - O palácio do Minotauro

Era um dos palácios do Minotauro
- O da minha infância para mim o primeiro –
Tinha sido construído no século passado (e pintado a vermelho)

Estátuas escadas veludos granito
Tílias o cercavam de música e murmúrio
Paixões e traições o inchavam de grito

Espelhos ante espelhos tudo aprofundavam
Seu pátio era interior era átrio
As suas varandas eram por dentro
Viradas para o centro
Em grandes vazios as vozes ecoavam
Era um dos palácios do Minotauro
O da minha infância – para mim o vermelho

Ali a magia como fogo ardia de Março a Fevereiro
A prata brilhava o vidro luzia
Tudo tilintava tudo estremecia
De noite e de dia

Era um dos palácios do Minotauro
- O da minha infância para mim o primeiro –
Ali o tumulto cego confundia
O escuro da noite e o brilho do dia
Ali era a fúria o clamor o não-dito
Ali o confuso onde tudo irrompia
Ali era o Kaos onde tudo nascia

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


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