segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Enquanto longe divagas

I

Enquanto longe divagas
E através de um mar desconhecido esqueces a palavra
- Enquanto vais à deriva das correntes
E fugitivo perseguido por inomeadas formas
A ti próprio te buscas devagar
- Enquanto percorres os labirintos da viagem
E no país de treva e gelo interrogas o mudo rosto das sombras
- Enquanto tacteias e duvidas e te espantas
E apenas como um fio te guia a tua saudade da vida
Enquanto navegas em oceanos azuis de rochas negras
E as vozes da casa te invocam e te seguem
Enquanto regressas como a ti mesmo ao mar
E sujo de algas emerges entorpecido e como drogado
- Enquanto naufragas e te afundas e te esvais
E na praia que é teu leito como criança dormes
E devagar devagar a teu corpo regressas
Como jovem toiro espantado de se reconhecer
E como jovem toiro sacodes o teu cabelo sobre os olhos
E devagar recuperas tua mão teu gesto
E teu amor das coisas sílaba por sílaba


II

O meu amor da vida está paralisado pelo teu sono
É como ave no ar veloz detida
Tudo em mim se cala para escutar o chão do teu regresso


III

Pois no ar estremece tua alegria
- Tua jovem rijeza de arbusto –
A luz espera teu perfil teu gesto
Teu ímpeto na fuga e desafio
Tua inteligência tua argúcia teu riso

Como ondas do mar dansam em mim os pés do teu regresso

Junho de 1974

Nota: No último verso, lê-se "dansam". A grafia foi escolhida pela autora. Este mesmo "trocadilho" será visto mais adiante em outro poema, Por delicadeza.


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