terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Homem e Formiga


O homem
guiava a máquina no trabalho
suava a máquina no trabalho
suava e gritava nos andaimes
e a formiga
construía sem betoneira
silenciosamente
fraternalmente
sem complexos nem diplomas.

E enquanto o homem
invitaminado erguia
casas grandes de cimento e ferro
no chão crescia a obra colectiva
do insecto consciencializado.

E de betão armado
elevador e ar condicionado
para os brancos e negros
indianos
mulatos e chineses dos andaimes
com retratos obrigatórios
nas chapas das radiografias
as casas grandes razando as nuvens
não chegaram.

Mas no chão
o formigueiro bastou
a todas as formigas.

(José Craveirinha)


As interpretações deste poema são diversas, pelo menos no meu simples entender...

Numa primeira leitura, lembro de uma comparação entre o trabalho do operário, que trabalha para outros, e o trabalho da formiga, que trabalha para si.

Já numa segunda leitura, mais aprofundada e cuidada, podemos encontrar o tema do socialismo, numa mensagem que nos diz que o trabalho da formiga é coletivo e, por isso, consciencializado, enquanto o trabalho do homem é individual, uma vez que o fruto do trabalho humano é dirigido para um indivíduo em particular (o dono da casa).

Assim, surge a desigualdade social, na qual as construções dos homens, individualistas (capitalistas) não bastam para todos e as construções das formigas, coletivas (socialistas) são suficientes para todas as formigas.

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